CONSCIÊNCIA VERDE: UMA AVALIAÇÃO DAS PRÁTICAS AMBIENTAIS
Antes da década de 50 não havia por parte das pessoas uma preocupação com a degradação ambiental, mas é por volta deste período que surgem os movimentos ambientalistas, compostos por pessoas preocupadas com o meio ambiente e com a escassez dos recursos naturais. Assim, estas tinham por objetivo levar a própria sociedade, o governo e as empresas a realizarem práticas que não tão fossem nocivas ao meio ambiente: surge, neste contexto, o consumidor verde, também conhecido como consumidor sustentável, podendo ser definido como aquele que tem atitudes de consumo consciente voltadas para a preservação do meio ambiente. Estas atitudes positivas contribuem para o desenvolvimento sustentável do planeta. Decker e Reuveny (2005) notam que os estudos não codificavam a natureza como um ator com recursos limitados capaz de modificar e alterar o ambiente o qual o homem estava inserido.
Até meados da década de 80, no meio empresarial, predominavam práticas e discursos que revelavam um posicionamento antagônico a qualquer iniciativa de minimizar os impactos ambientais decorrentes da atividade produtiva. Os argumentos giravam em torno de que os custos adicionais para as empresas, resultantes dos gastos em controle da poluição, comprometeriam a lucratividade, a competitividade e a oferta de empregos e, deste modo, gerariam prejuízos às partes interessadas – trabalhadores, acionistas e consumidores. Assim, havia uma tentativa de transferir os custos ambientais para a sociedade, poupando um dos principais causadores dos danos ambientais (empresas) de arcar com qualquer gasto para reverter o problema. (DEMAJOROVIC; SANCHES, 1999, p. 1)
A própria sociedade, neste contexto, não se importava com a degradação ambiental pois acreditava que os recursos deveriam ser utilizados e aproveitados, sem medir as consequências de seus atos; assim, durante muito tempo, o planeta sofreu com a falta de consciência ambiental que repercutia em ações degradadoras. Campos et al (2004, p. 2) observam que foi no final da década de 80 e início da década de 90 que surgiram os chamados Sistemas de Gestão Ambiental (SGAs). A principal característica destes sistemas está em promover um processo de melhoria contínua que busca manter seus processos, aspectos e impactos ambientais sob controle, contribuindo para minimizar os impactos ambientais.
Foi neste período que se intensificam ações que visam melhorar as questões ambientais que até então eram deixadas de lado. Deste modo, começava-se a buscar além da preservação, ações que pudessem implicar no menor impacto ambiental possível. As empresas passaram a buscar outra postura, voltada à adoção de uma política ambiental por causa das pressões da sociedade, dos movimentos ambientalistas, da crescente conscientização ambiental das pessoas e da aplicação de leis mais rígidas para aquelas não respeitarem a natureza. Este conjunto pode ser visto como o início da formação da consciência verde que anos mais tarde tomaria outra dimensão.
Assim, muitas empresas não tiveram outra alternativa a não ser buscar uma política de gestão ambiental, uma vez que as práticas ambientais começaram a ser valorizadas e posteriormente passaram a ser vistas como diferencial competitivo entre as organizações que desejavam permanecer no mercado.
Dentro deste contexto, nota-se que na medida em que as pessoas passam a ter a consciência verde, as empresas encontram razão para uma política ambiental sustentável. Porém, atualmente, parece que com a existência das práticas empregadas pelas chamadas empresas verdes, a consciência verde e os consumidores verdes vêm crescendo gradativamente. Neste contexto, surge a seguinte pergunta de pesquisa: as empresas são capazes de despertar a consciência verde e tornar seus consumidores mais verdes? Para que seja respondida tal pergunta, realizou-se uma pesquisa bibliográfica sobre o assunto, buscando o momento em que a degradação do meio ambiente levou ao surgimento do consumidor verde, o aparecimento da consciência verde o motivo que levou as empresas a buscarem uma (nova) política de gestão ambiental. Por fim, é realizada uma análise acerca da possibilidade que as ações empresariais têm de desencadearem um processo de conscientização ambiental.
A formação da consciência verde pode ser vista como parte de um conjunto de ações voltadas à preservação ambiental, que tem seu início com o aparecimento dos movimentos ambientalistas. Para abordar esta questão, faz-se necessário relembrar que, até a década de 50, o Brasil passava por uma fase em que se prezava muito pelo desenvolvimento econômico e não havia ainda políticas ambientais. Zulauf (2000, p. 86) verifica que até então a sociedade entendia que aquilo que não tinha exatamente um proprietário poderia ser utilizado de forma inconsequente por qualquer um, esta era a relação estabelecida com o meio ambiente. Se o meio ambiente era visto como um recurso para o uso de todos, aliando a isso a necessidade de expansão das indústrias, a ausência de leis regulamentadoras das questões ambientais brasileiras e a inexistência de pesquisas que pudessem alertar para os riscos que a degradação causaria à própria sociedade, não havia razão aparente para se pensar em preservação.
Durante muitos anos, Rohrich e Cunha (2004, p. 1) notaram que face ao atraso em aspectos tecnológicos, educacionais e sociais, dentre outros países, o Brasil priorizou o crescimento econômico sem qualquer preocupação com aspectos ambientais. Foi assim que a exploração dos recursos naturais esteve sobreposta à consciência de preservação ambiental, então vista a destruição ambiental como um preço aceitável a ser pago pelo progresso econômico.
Portilho (2005) observa que os problemas sociais e ambientais se agravaram a partir da industrialização, da concentração populacional urbana e do incentivo ao consumo, o que se revelou como características comuns da sociedade moderna. É possível enfocar a problemática ambiental com uma análise que inicia com a extração de recursos naturais para a indústria e vai até a dificuldade de gerenciamento dos resíduos que são gerados após o consumo, passando pelo processo produtivo, armazenamento, transporte, comércio, consumo e posterior descarte.
Assim, durante muito tempo, questões ambientais ficaram esquecidas para se alcançar competitividade no mercado, pois as empresas priorizavam tecnologias que oportunizassem tão-somente o aumento da lucratividade; o resultado disso era a extração de recursos naturais desmedida e o descaso em relação aos resíduos gerados pelas empresas, pois estes não tinham tratamento adequado.
Portilho (2005) verifica que a partir do crescimento das pressões humanas sobre a degradação do meio ambiente e a interferência direta que esta tem na qualidade de vida das pessoas, cresce o chamado movimento ambientalista. No Brasil, Jacobi (2003, p. 2) nota que as primeiras iniciativas ambientalistas surgiram a partir de ações de grupos preservacionistas na década de 50. No ano de 1955, a União Protetora do Ambiente Natural (UPAN) foi fundada por Henrique Roessler em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul e, em 1958, no Rio de Janeiro é criada a Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN) com objetivos e forma de atuação estritamente conservacionistas, centrando suas atividades na preservação da fauna e da flora, enfatizando as espécies ameaçadas de extinção. Na década de 70, a FBCN juntamente com a União Mundial para a Conservação (IUCN) e o Fundo Mundial para a Natureza (WWF) começou um programa de financiamento que consistia em colaborar com as agências ambientais.
Por volta da década de 70 os problemas ambientais ainda não fazem parte das preocupações da sociedade, esta reflexão leva ao conceito de desenvolvimento sustentável, que é um tipo de desenvolvimento que visa garantir a qualidade de vida tanto para as gerações atuais quanto para as futuras gerações sem a destruição da sua base de sustentação: o meio ambiente (BELLEN, 2002, p. 1). A sociedade, na visão de Kraemer (2003), sofre as consequências de um problema gerado pela sua própria relação com o meio ambiente. Na segunda metade da década de 70, Jacobi (2003, p. 3) observa o surgimento de muitos outros grupos ambientalistas, que se formam quando inicia o processo de liberalização política e pelo estímulo gerado para o trato de questões ambientais pela Conferência de Estocolmo, em 1972. Foi nesse momento que cresceram as acusações de alguns países desenvolvidos em relação à postura daqueles em estágio de desenvolvimento a respeito da ausência de normas que pudessem controlar os graves problemas ambientais. Ao Brasil coube o destacado papel como organizador do grupo de países em desenvolvimento que estavam aumentando as restrições ambientais, conflitando com as estratégias de desenvolvimento apoiadas justamente na implantação de indústrias poluentes tais como a petroquímica e a instalação de grandes projetos energético-minerais.
A atuação destes grupos lutando pela preservação ambiental marca este momento histórico em que começam a ser questionadas as atividades das empresas e inexistente atuação política do governo brasileiro que, até então, buscava tão-somente o desenvolvimento econômico, já que permitia a instalação e a atuação de indústrias sem medir as consequências da degradação ambiental.
Entretanto, vale ressaltar que a transformação do cenário ambiental desde a década de 50 até os dias de hoje mostra que houve a intensa exploração e degradação ambiental até o momento em que os movimentos ambientalistas levaram a sociedade a rever suas práticas e refletir sobre os excessos em relação à natureza, assim como as consequências futuras (para esta e outras gerações) de tais ações.
Na compreensão de Kraemer (2003), os avanços das questões ambientais em termos de instrumentos técnicos, políticos e legais, principais atributos para a estruturação de uma política de meio ambiente são inegáveis e inquestionáveis. Especialmente nos últimos anos, saltos quantitativos foram dados, principalmente no que se refere à consolidação de ações e formulação de diretrizes que tratam a o meio ambiente modo sistêmico e integrado.
No mesmo caminho estão as normas ambientais que surgiram para padronizar a política de gestão ambiental das empresas, tornando-as mais corretas. Assim, tanto em termos nacionais quanto internacionais, empresas com tais normas têm um importante diferencial, em termos de produtos (ou serviços), que está comprovado por meio de certificações concedidas pelas empresas que regulam as práticas ambientais, as quais levam o consumidor verde e até o consumidor não verde às compras.
Hoje ainda há uma busca pela consciência e consumidores verdes, os meios de comunicação intensificaram informações no sentido de que as pessoas venham a incorporar ações ambientais mais corretas, realizando práticas como: a reciclagem, reutilização de embalagens, utilização de materiais não degradantes, combate ao desperdício, dentre outras. Tais práticas também são estimuladas por empresas que já as utilizam e querem se mostrar amistosas do meio ambiente, passando a ser consideradas pelas pessoas como empresas verdes.
Finalmente, se durante muito tempo a história caminhou no sentido de forçar as indústrias a incorporarem práticas ambientais em seus processos produtivos, hoje tem-se a complementaridade daquelas medidas, pois as empresas têm realizado ações e incentivado seus consumidores a refletir sobre a preservação ambiental e sobre os danos que podem ser evitados. Deste modo, bem mais que divulgar suas práticas de gestão ambiental sustentável, estão contribuindo decisivamente para um mundo mais verde.
Msc. Ricardo Delfino Guimarães