O CONSUMIDOR VERDE

Publicado por CESVALE em

A formação da consciência verde pode ser vista como parte de um conjunto de ações voltadas à preservação ambiental, que têm seu início marcado com o aparecimento dos movimentos ambientalistas. Para abordar esta questão, faz-se necessário relembrar que até a década de 50 o Brasil passava por uma fase em que se prezava muito pelo desenvolvimento econômico e não havia ainda políticas ambientais. Zulauf (2000, p. 86) verifica que até então a sociedade entendia que aquilo que não tinha exatamente um proprietário poderia ser utilizado de maneira inconsequente por qualquer um, esta era a relação estabelecida com o meio ambiente.

Logo, o meio ambiente era visto como um recurso para o uso de todos, aliando a isso a necessidade de expansão das indústrias, ausência de leis regulamentadoras das questões ambientais brasileiras e da ausência de pesquisas que pudessem alertar para os riscos que a degradação causaria à própria sociedade, não havia razão aparente para se pensar em preservação.

Durante muitos anos, Rohrich e Cunha (2004, p. 1) notaram que face ao atraso em aspectos tecnológicos, educacionais e sociais, dentre outros países, o Brasil priorizou o crescimento econômico sem preocupações com aspectos ambientais. Foi assim que a exploração dos recursos naturais esteve sobreposta à consciência de preservação ambiental, então era visto na destruição ambiental um aceitável preço a ser pago pelo progresso econômico.

Portilho (2005), observa que os problemas sociais e ambientais se agravaram a partir da industrialização, da concentração populacional urbana e do incentivo ao consumo, o que se revelou como características comuns da sociedade moderna. É possível enfocar a problemática ambiental com uma análise que inicia com a extração de recursos naturais para a indústria e vai até a dificuldade de gerenciamento dos resíduos que são gerados após o consumo, passando pelo processo produtivo, armazenamento, transporte, comércio, consumo e posterior descarte.

Durante muito tempo questões ambientais ficaram esquecidas, para alcançar competitividade no mercado, as empresas priorizavam por tecnologias que oportunizassem tão e somente o aumento da lucratividade, assim, a extração de recursos naturais era desmedida e, do mesmo modo, os resíduos gerados pelas empresas não tinham tratamento adequado levando à uma intensa degradação ambiental.

Bellen (2002, p. 1) verifica por volta da década de setenta que os problemas ambientais inda não fazem parte das preocupações da sociedade, esta reflexão leva ao conceito de desenvolvimento sustentável que é um tipo de desenvolvimento que visa garantir a qualidade de vida tanto para as gerações atuais quanto para as futuras gerações sem a destruição da sua base de sustentação: o meio ambiente. A sociedade, na visão de Kraemer (2003) sofre as consequências de um problema gerado pela sua própria relação com o meio ambiente. Na segunda metade da década de 70, Jacobi (2003, p. 3) observa o surgimento de muitos outros grupos ambientalistas, que se formam quando inicia o processo de liberalização política e pelo estímulo gerado para questões ambientais pela Conferência de Estocolmo em 1972. Foi nesse momento que cresceram as acusações de alguns países desenvolvidos em relação à postura daqueles em desenvolvimento a respeito da ausência de normas que controlassem os graves problemas ambientais. O Brasil teve papel de destaque como organizador do grupo de países em desenvolvimento que estavam aumentando as restrições ambientais, já que as suas restrições ambientais entravam em conflito com as estratégias de desenvolvimento apoiadas justamente na implantação de indústrias poluentes tais como a petroquímica e a instalação de grandes projetos energéticos-minerais. A atuação destes grupos lutando pela preservação ambiental marca este momento histórico em que começam a ser questionadas as atividades das empresas e inexistente atuação política do governo brasileiro que, até então, buscava o desenvolvimento econômico permitindo a instalação e atuação das indústrias sem medir as consequências da degradação ambiental.

Mesmo que na década de 80 o termo consciência verde não fizesse parte do discurso dos ambientalistas, esta ideia já se manifestava, uma vez que participantes de movimentos ambientalistas e até pessoas que não se integravam a estes movimentos atuavam mais conscientemente em relação ao meio ambiente, prezavam pelo cuidado com os recursos naturais, de modo que as empresas que eram descobertas por eles em ações que degradavam o meio ambiente, sofriam as consequências de manifestações e boicotes.

Mais tarde é possível verificar o aparecimento de outro tipo de consumidor que está atento às questões ambientais relacionadas às empresas, este por sua vez, não é um consumidor comum, é alguém que busca nos produtos a existência de uma política ambiental na empresa que o fabrica. Na visão de Layrargues (2000, p. 85), o consumidor verde é alguém que faz suas escolhas de compra levando em consideração não somente qualidade e preço, mas o fato de ser ambientalmente correto, ou seja, para este consumidor o produto não pode ser prejudicial ao ambiente em nenhuma etapa do seu ciclo de vida, pois acredita-se que o simples ato da compra determina uma atitude de predação ou preservação, assim, transfere-se o ônus da responsabilidade ambiental também para a sociedade.

O consumidor verde tem como hábito analisar antes da compra, os benefícios ou malefícios que estará fazendo ao comprar determinado produto, uma vez que os produtos com certificações ISO, selo verde ou outras certificações ambientais comprovam que a empresa tem ações voltadas à preocupação ambiental. Tavares e Irving (2005, p. 89) verificam que produtos como sabonetes, xampus, camisas, perfumes, bichos de pelúcia, dentre tantos outros, podem vir com um novo diferencial: o selo verde de qualidade. Para as empresas, ser ecologicamente correto é uma estratégia de marketing que surge e incentiva diversos atores sociais interessados pelos produtos que formam o mercado verde.

Assim, as relações entre a sociedade e o meio ambiente ganham novos contornos e dimensões, por meio de uma visão de desenvolvimento sustentável, surge o consumo verde como um novo dispositivo de controle social identificado na pós-modernidade, como uma das possíveis estratégias de produção da sociedade de controle.

Hoje outros diversos recursos são utilizados pelos consumidores verdes, não que as ações mais antigas tenham deixado de existir, mas há dois fatores que merecem destaque. O primeiro está na existência de leis que regulam as práticas das empresas, havendo a possibilidade de denúncia e multas para as empresas que transgridam as leias, o outro se encontra nas normas e princípios ambientais que foram criados como diferencial competitivo para as empresas e que levam os consumidores a possibilidade de escolher um produto certificado por práticas ambientais corretas ou não.

Com as novas tendências econômicas, sociais, políticas e culturais emergindo, os paradigmas inevitavelmente modificam-se em todos os ramos do conhecimento e, a partir desse cenário, o ser contemporâneo começa a perceber os riscos apresentados pelos modelos de desenvolvimento vigentes, bem como a sua responsabilidade para o bem-estar das gerações futuras, incluindo entre as suas preocupações questões como a conservação do meio ambiente, sobretudo dos recursos naturais não-renováveis. (TAVARES; IRVING, 2005, p. 80)

Bandeira-de-Mello et al (2003, p. 1), notam que a aceitação da formulação de Agendas 21 locais pelos países signatários da Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio92 que foi patrocinada pela Organização das Nações Unidas (ONU), intensificou a vontade dos países em buscarem políticas de desenvolvimento sustentável. Para atingir este grau de desenvolvimento, as empresas produtivas precisarão demonstrar para a sociedade a sua posição de responsabilidade social e ambiental, além da viabilidade econômica e, para que isso se torne realidade, muitas organizações estão repensando sua forma de produção e buscando soluções técnica que respeitem a o meio ambiente e aumentem a sua competitividade no mercado. Nos últimos anos a preocupação ambiental no Brasil tem crescido e se tornado motivo de pesquisas voltadas às práticas ecologicamente mais corretas. Com a intensa degradação ambiental e as repercussões que esta causou à vida das pessoas, tornou-se necessário buscar formas de preservar o que existe e evitar maiores danos à natureza, uma vez que estes repercutem na vida de todos os seres vivos.

Demajorovic e Sanches (1999, p. 1), notam que em resposta às novas demandas e necessidades da sociedade, tentando adequar o discurso e a prática empresarial a esta nova realidade, conceitos como ética, responsabilidade social, desenvolvimento sustentável assumem um papel cada vez mais importante nas estratégias das organizações. Ou seja, o espaço para empresas que se restringem apenas à geração de riqueza estão ficando cada vez menores e necessitam a da contemplação das dimensões sociais e ambientais. A variável ambiental passa a fazer pare do processo decisório empresarial, deixando assim de ser um fator exógeno e antagônico. Observa-se que, diante das transformações da economia mundial, o desempenho ambiental passou a integrar as exigências de qualidade nos bens e serviços. Logo, as empresas bem sucedidas serão aquelas que consigam superar os desafios advindos da incorporação da variável ambiental em suas estratégias de longo prazo e que possam aproveitar as oportunidades que estão surgindo.

A transformação do cenário ambiental desde a década de 50 até os dias de hoje mostra que houve a intensa exploração e degradação ambiental até o momento em que os movimentos ambientalistas levaram a sociedade a rever suas práticas e refletir sobre os excessos em relação à natureza, assim como as consequências futuras (para esta e outras gerações) de tais ações. Na compreensão de Kraemer (2003), os avanços das questões ambientais em termos de instrumentos técnicos, políticos e legais, principais atributos para a estruturação de uma política de meio ambiente são inegáveis e inquestionáveis. Especialmente nos últimos anos, saltos quantitativos foram dados, principalmente no que se refere à consolidação de ações e formulação de diretrizes que tratam a o meio ambiente modo sistêmico e integrado.

O surgimento do consumidor verde neste cenário é uma consequência natural da reflexão e necessidade de ação contra aqueles que não se importavam até então, assim, as pressões por parte destes consumidores que podem ser vistos como pessoas que também compunham o quadro de ambientalistas e por parte de outras pessoas da sociedade, levaram o governo a encontrar formas de regular as ações contra o meio ambiente, o que ocorreu a partir de 1981 e se intensificou em 1988.

Hoje ainda há uma busca pela consciência verde e pelos consumidores verdes, os meios de comunicação intensificaram informações no sentido de que as pessoas venham a incorporar ações ambientais mais corretas, realizando práticas como: a reciclagem, reutilização de embalagens, utilização de materiais não degradantes, evitar o desperdício, dentre outras e práticas como estas também são estimuladas por empresas que já as utilizam e querem se mostrar amigas do meio ambiente, passando a ser consideradas pelas pessoas como empresas verdes.

Finalmente, se durante muito tempo a história caminhou no sentido de forçar as indústrias a incorporarem práticas ambientais em seus processos produtivos, hoje parece que estamos na contramão da história, pois as empresas têm realizado ações e incentivado seus consumidores a refletirem sobre a preservação ambiental e sobre os danos que podem ser evitados, deste modo, bem mais que divulgar suas práticas de gestão ambiental sustentável, estão contribuindo decisivamente para um mundo mais verde.

Msc. Ricardo Delfino Guimarães

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